domingo, 28 de novembro de 2010

Apenas saudades... do distante que não me é estranho

O silêncio nunca foi tão ensurdecedor. Parece que todas as lamentações passaram a fazer sentido, quando antes eram apenas lidas - ou ouvidas - e ignoradas. A impiedosa canção da verdade... Será da verdade? Já não sei se é ou se é apenas um delírio originário de um sentimento inquilino. Inquilino ou cônjuge? Já não sei se logo se vai ou se permanecerá até que a morte o leve. A única certeza é de que, dentro de mim mesmo, estou perturbado. Até quando? Já não arrazoo mais...

Sinto-me inútil, apesar da ebulição de pensamentos. Não consigo ordená-los - ou talvez nem me importe em fazê-lo. Só sinto vontade de escrever e derramar sobre o pano o vinho nunca provado... A cada frase, mil reflexões, porém apenas uma palavra escrita. Isso tem, no finalzinho do paladar, um gosto adocicado. Entendo agora que "é no território da melancolia que o poeta lavra a palavra, acende iluminuras". Ou que "a Literatura nasce do que não tenho e por isso a ausência é fator criativo".

Simplesmente escrevo. E vou escrevendo. Sinto-me saudosista. Mas saudade de quê, se nunca possuí?! Saudade de uma voz que não pode ser lembrada pelo sorriso que nunca vi? Saudade do abraço que não pode ser revivido pela ausência do tão desejado toque que nunca experimentei? Mas sinto falta... Sinto muita... Só sei disso. E sonho... Continuo a sonhar... Sem um rumo, é certo, mas caminho... Ainda quero caminhar. Ainda quero escrever. Ainda tenho por que escrever, porquanto "a ausência é o fator criativo". E depois? E se a ausência definitivamente der lugar à doce presença que tanto desejo?

Daí, então, terei mil poesias. Já não mais com tons monocromáticos... Não mais será uma canção de uma nota só... Não mais será uma fábula repetida que se ouve antes de adormecer - quando nos querem fazer dormir e esquecer. Terá cores, em essência como são: infinitas.

Mas não estou tão certo disto, posto que um breve sussurro ou um chamado ao longe me tira completamente a atenção de mim mesmo. Aquela voz, aquele convite, me faz voltar atrás de todas as decisões. E assim deixo a caneta sobre o papel, aguardando um desfecho... que talvez nunca existirá. Muito provavelmente a página será virada e outra poesia será escrita.