terça-feira, 23 de novembro de 2010

De alguém sobre alguém...

... E soou antecipadamente a sirene do meu despertar. Não era agora. Não mesmo! Fui arrancado do meu lugar de sossego pela agitação da minha consciência. Não foi o toque do telefone, que já me impacienta, ou uma batida na porta, tão inoportuna, tampouco o alarme dos compromissos. Foi uma frase...

"A linha de chegada costuma ser repleta de dualidade".

Estava adormecido, "despretencioso", com os olhos fitos, não tão atentos, em qualquer notícia, ou novidade, ou contato, enquanto a mente já buscava, na profundidade dos mais complexos pensamentos, um lugar de repouso. Ao se perscrutar os horizontes das minhas emoções, já não se via uma linha tortuosa, cheia de ondas, mas um traço milimetricamente horizontal. O Sol, para garantir mais precisão, já se via nítido, e não mais com um brilho translúcido ofuscado pelas altas ondas que tempos atrás (horas, dias, meses) se projetavam.

O mar estava calmo e eu queria garantir esse momento. "Inocente e despreocupado", buscava a melodia, mesmo escrita (falo daquele pensamento gerado por um olhar ou uma só palavra o qual alimentamos sem limites até adormecer), que desejava para acalentar meu sossego.

Contudo, aquela frase me despertou e me remontou a flashes de todos os momentos que vivi, confundindo certas convicções - na verdade, sofismas que tomei como verdades máximas para não mais aflingir-me com aquelas reflexões -, e alterando velhas conclusões.

Essa frase parece ter sido a chave-mestra, antes escondida e agora descoberta, que abriria o que já estava impregnado de poeira. A não ser aquela parte sobre a qual deixei estendido o pano que me serviria para limpar esse baú. Essa parte refletia algum brilho, enquanto o pano, em seu lugar, estava empueirado. Era a intenção resolver todos aqueles pensamentos; deveria voltar lá para isso, limpar aquele baú... Isso explica o pano esquecido por tanto tempo sobre ele... Acabei deixando pra lá; não voltei.

E essa frase, à primeira vista tão simples, foi que me tirou do meu lugar de repouso (ou de comodismo emocional) e me levou de volta aonde eu deveria ajustar algumas verdades.

Quantas vezes acreditei em finais que eram, na verdade, apenas começos. Quantas vezes alegrei-me por definitivamente ter encontrado uma verdade de equilíbrio, firme e derradeira, quando, sem defesas, me via soterrado pelas velhas dores e medos. Tantas vezes... Tantas vezes achei que havia encontrado o melhor caminho, quando me via de volta, por passos cíclicos, ao mesmo lugar de onde desesperadamente queria fugir.

Quantas vezes cheguei e, achando que tinha chegado, precisava novamente escolher, desenganado, uma dentre tantas outras portas que se mostravam. A vida não é tão objetiva como queremos e tentamos vivê-la (quando tentamos).

Ou naquelas situações em que se arrazoa uma direção (arrazoar, que é "chegar a uma razão", pressupõe mais de uma razão, logo mais de uma pessoa), ou mesmo um desfecho, e, no fim, nada se consegue. As velhas paixões ainda persistem, enquanto as razões se negam a unirem-se.

Ou mesmo quando, indignados com nós mesmos, decidimos por um extremo e depois de poucos minutos cedemos aos velhos caminhos. Tornamo-nos a envergonhar-se, a indignar-se, mas por uma só palavra, como é tantas vezes, esquecemo-nos de todo o forte que sobre areia construímos. E voltamos às dúvidas, medos e dualidades.

Por vezes, achamos que amadurecemos, que fomos curados, que estamos fortes... que, enfim, alcançamos a linha de chegada. Então, percebemos que precisamos tomar as mesmas decisões novamente, caminhar pelos mesmos caminhos já tão conhecidos, cruzar com as mesmas pessoas, sentir as mesmas sensações...

Tudo vai parecer novo, e tais portas, apesar de um dia já visitadas, vão se mostrar como dualidades, exigindo de nós "novas" escolhas ou uma "nova" adaptação ou interpretação. Mas na linha de chegada - ou em uma nova margem de partida - tudo vai se mostrar como antes. O que torna tudo novo, no entanto, são as velhas emoções renovadas.

E cá me percebo a refletir sobre meus passos, meus sentimentos, minhas reações, minhas decisões e a, mais uma vez, tentar explicar, ainda que pra mim mesmo, como tudo acontece. Cheguei ao fim, mas não sei se terminei. Afinal, "a linha de chegada costuma ser repleta de dualidade".