quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Deus é mesmo real?

Quem nunca se perguntou isso? Hora ou outra deparamo-nos sem soluções, indignados e quase nunca pensamos que nós mesmos somos causa do que semeamos, mas Deus. Culpamos a Deus. Algumas vezes indignados com Ele, outras sem fé, apesar do clamor interior que impulsiona uma renovada esperança. Fato é que temos a tendência de atribuir a Deus - ou a sua "ausência" - aquilo que nos faz sucumbir lentamente - apesar de realmente nunca chegarmos onde nosso pessimismo nos leva virtualmente.

Admitir isso não nos faz menores. Afinal, somos vis de qualquer maneira mesmo... Ao contrário, é por vezes essencial questionarmos isso, porquanto precisamos de um Deus pessoal, não de um Criador genérico, um Ser Superior em que cremos existir, mas não em nossas vidas. Se Ele não existir em nossas vidas, não é real para nós. Apenas ouvimos falar... É necessário que tenhamos individualmente uma experiência com Deus de revelação, de intervenção, para que, então, creiamos e confiemos. Precisamos, sim, de uma experiência com Deus. E Ele se encarrega disso.

Eu vinha em busca de um sonho na América e precisei, claro, de 10 horas de uma aflita espera dentro de um "claustrofóbico" avião. Descrevo assim porque é o maior antídoto contra nossa ansiedade: desejamos dormir, mas geralmente (eu, pelo menos) não conseguimos, devido às cadeiras muito apertadas, o vizinho espaçoso, etc. Pensamos em nos distrair, mas não temos muitas opções, especialmente para quem está na classe econômica. Lá, ou enjoamos de ouvir todas as músicas do iPod ou grudamos os olhos no mapa virtual que mostra os dados da viagem. Nesse último caso é como ver as gotas do soro cair e escorrer para a veia, uma a uma lentamente, até acabar.

Olhava para a primeira classe (eu estava a duas poltronas da divisória, logo poderia notar a grande diferença) e me imaginava lá. Fiz planos racionais até perceber que minha realidade naquele lugar não passava da imaginação. Então, arguí a fé, lembrando-me de um episódio em que um pastor, ao ser questionado dentro do avião em que viajava quem era e ter respondido "sou um ministro" (de Deus), foi mudado para o lugar de honra que merecia, na primeira classe. Sempre conta o testemunho do qual naquele momento me lembrei. Eu sou o filho do dono de tudo - pensei eu antes de esquecer o devaneio.

Sentei ao lado de um americano e isso me alegrou muito. A viagem passaria rápida, pois eu planejava conversar bastante com ele, e ele já havia dado sinais de que poderia ser assim. Um senhor de meia idade, com algumas tatuagens visíveis no braço e aparentemente gentil. Parecia meio cansado e, por isso, tentei servi-lo como pude: fiz questão de prestar-lhe favores e retribuirqualquer gentileza. Eu estava satisfeito.

Ouvia música e orava um pouco. Sintia-me bem espiritualmente. Na verdade, sentia-me coberto pela graça de Deus ainda mesmo no Brasil. Sentir essa presença, ter paz interior com Deus é magnífico e eu cultivava o que não queria perder. O favor de Deus estava sobre mim e eu cria nisso. Os meus medos antes da viagem deram lugar à confiança no Senhor e eu estava leve.

Tentei dormir, mas realmente não consegui. Cochilei um pouco, mas aquele senhor americano estava prestes a tomar o meu assento também. Foi árduo, mas continuei gentil. A certa altura, tivemos um diálogo mais longo, com uma apresentação melhor. Já sabíamos onde cada um morava, o que fazia, por que viajávamos para os Estados Unidos e como funcionava o avião. Esses momentos eram interrompidos apenas quando aquele desgastado senhor precisava tomar sua medicação e, depois de alguns minutos, pedir água.

Tudo ótimo até o tal homem começar a demonstrar certas estranhezas. Começou tentando me aliciar (acredite!). Primeiramente, com sutilezas. Percebi e resolvi ignorar, apenas me afastando. Em seguida, com um gesto mais ostensivo. Eu o fitei sério e perguntei o que estava acontecendo. Com uma cara de deboche, ele me calou. A partir de então, tornei-me ríspido. A loucura mudou os sinais; agora, ele falava sem sentido. Abriu a janela e mostrou que o avião estava "parado"; disse que não saíamos do lugar; depois tentava criar uma teoria de que nós deveríamos estar sentindo frio e não calor... Eu morria de frio. Questionava a mim o que estava acontecendo. Eu, indignado, retrucava dizendo que ele deveria perguntar a algum comissário. Não ia mesmo dar vazão a doido (com o perdão da palavra).

Nesse momento, comecei a perder a tranquilidade. Mil coisas passaram pela cabeça. E senti medo, raiva, frustração, revolta... Comecei a orar e a repreender em mente aquele espírito maligno. Ao ver que o distúrbio continuava, orava cobrando de Deus o fato de eu ser seu filho e que Ele não deveria permitir que aquilo me acontecesse. A imagem de que me lembrava era a dos sodomitas tentando assediar os anjos do Senhor.

Resignado, levantei-me e fui falar com uma aeromoça para ser mudado de lugar, ao que ela respondeu que não era possível porque o avião estava lotado. Voltei e encontrei a mesma inquietação do homem; um profundo desequiíbrio. Ele a todo momento queria levantar-se, mexer em tudo, até no que era meu (disponibilizado pela companhia aérea). Novamente, levantei-me e procurei outra aeromoça, a qual deu a mesma resposta.

Eu já estava intolerante e revoltado. Não quis de maneira alguma voltar a sentar lá. Destarte, fiquei de pé junto aos banheiros localizados perto das asas do avião, onde foi montada uma espécie de cozinha (os passageiros tinham acesso para pegar água e os comissários guardavam alguns itens em armários embutidos).

Ainda faltavam três horas para a aterrissagem e eu estava disposto a ficar lá, em pé, por todo esse tempo. Resolvi adorar a Deus. Queria ser-lhe grato por tudo, apesar de quaisquer tribulações ou literamente turbulências. Foi quando questionei se Deus era real, pois sentia-me sozinho. A minha esperança, gerada pelo Espírito Consoloador, clamava dentro de mim para que eu cresse. Então, lembrei-me de um Salmo Davídico que fala que Deus pode nos encontrar na maior das alturas e no mais profundo da terra. Deus está aqui comigo - pensei -, a dez mil metros do chão, onde eu poderia ter segurança. Tudo o que acontecia, no entanto, levava-me a descrer nessa verdade. Nada acontecia e eu me sentia realmente abandonado.

No entanto, pouco tempo depois dessas orações misturadas com pensamentos, a última aeromoça com quem falei veio até mim e, preocupada, perguntou-me o que havia ocorrido. Depois de ouvir tudo, saiu, dizendo que ia conversar com o mencionado homem. A despeito de eu ter insistido para que não, ela foi e, algum tempo depois, voltou segura de que o homem era realmente louco. Disse que tinha um outro lugar para mim. Eu a segui.

Contra todos os meus pensamentos, fui levado à primeira classe, onde os requintes e caprichos eram maiores do que os que eu havia visto e outros tantos que havia imaginado. Ela me trouxe lençol, perguntou se eu desejava algo mais e me tratou com bastante distinção. Sentia-me muito acolhido e aliviado, quando ouvi uma voz no coração dizer: Eu te vejo e cuido de ti.

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Alinhar à esquerda Alinhar ao centro Alinhar à direita ... Lembrei-me do meu pensamento prematuro sobre a única possibilidade de eu ir para a primeira classe. Deus é real.

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Ao final, a trinta minutos da aterrissagem, o homem invadiu a primeira classe em direção à cabine do comandante, falou algumas bobagens em alto tom para dois passageiros, que estavam sentados mais à frente (não me viu, nem sei se me procurava), e dirigiu-se à cabine. No caminho, ofendeu os comissários e chutou algo no caminho, quando foi agarrado por um comissário. Depois de algum tempo de luta corporal e a porta de um dos banheiros quebrada, cinco passageiros ajudaram o oficial de bordo a conter o alucinado homem, que foi algemado nas mãos e pés e arrastado para onde estava sentado.

Avião parado, portas abertas, sete homens do FBI o arrestaram. Eu prestei depoimento.

Depois disto, o último desafio: passar pela imigração. Por conta do episódio (obrigado, Deus), os agentes estavam tão desconcentrados que apenas me fizeram uma pergunta e antes mesmo que eu respondesse já haviam carimbado meu visto. Os meus medos (para quem falei deles sobre a possibilidade de não conseguir passar pela imigração) foram frustrados. Dei-me conta novamente da providência de Deus quando pisei fora do aeroporto e, ao respirar, expirei um visível vapor pela boca. Sensação impagável. Diverti-me mais um pouco soprando o ar da minha boca, olhei ao redor, senti-me vivo e caminhei em direção aos sonhos.