sexta-feira, 29 de julho de 2011

A estrada

... quando, por um suspiro, as palavras debruçam-se a admirar, esquecendo-se do seu papel de descrever. Decidiram por apenas sentir, tocar uma essência, ao invés de carregar as suas próprias. A beleza que os olhos não conseguiam enxergar, mas o coração entendia perfeitamente, anestesiou um processo natural de manifestar. Apenas a mente, em um esforço para também não sucumbir ao coração, manteve-se em lucidez. Mas, da mesma forma, contemplava.

Uma estrada foi descoberta. Por muito tempo, permaneceu como um caminho mítico. Um dia conhecido e percorrido - de onde quem um dia acompanhou essa trajetória pode descrever alguns contos -, mas há gerações tido como inexistente.

De lá se ouvem histórias fantásticas, contudo, a seguir a essência da palavra que as descrevem, não verdadeiramente reais. Sob lembranças e esquecimentos, mundos mudaram e pessoas passaram. Hoje, por quem inolvidavelmente narra breves prosas, é uma estrada abandonada. Grandes plantas cercando-a, pedras esverdiadas do limo que deu tom às margens da terra que não mais guarda pegadas.

Alguém, no entanto, com um olhar diferentemente atencioso, acreditou haver essa estrada e decidiu desbravá-la. O portão estava fechado, com um cadeado intimidante e visivelmente bem trancado. A despeito disso, no entanto, os passos sutis que aproximavam aos meus ouvidos um sorriso puro e uma voz doce chegavam mais perto das grades enferrujadas, reflexo do que era intocado havia estações. A atitude confiante de abrir aquele ferrolho aparentemente imovível a permitiu certificar-se de um caminho que, de acordo com suas próprias convicções, a levaria a um precioso lugar.

Entrou, sentiu uma agradável brisa e parou, sentindo-a. Era o mesmo vento que levava seu cheiro e carregava a melodiosa cantiga dos pássaros, afoitos com sua chegada, a um coração, calado, mas cativado por cada pegada deixada em suas terras outrora selvagens.